domingo, 11 de novembro de 2007

Joportunista
Segunda parte da reportagem sobre a máfia dos cambistas revela como a promoção da Nestlé facilita a troca de ingressos, e o quanto isso facilita a ação dos cambistas

Promoção Nestlé e jogo do Corinthians
Troca de ingressos por bolacha é mais uma das “brechas”

Desde o ano passado a empresa multinacional Nestlé vem comprando ingressos de alguns jogos do Campeonato Brasileiro de futebol para serem trocados entre os consumidores de seus produtos. A promoção permite ao torcedor trocar três pacotes de qualquer bolacha Nestlé por um ingresso. A promoção tem atraído um público muito bom aos estádios, considerando os padrões brasileiros. Entretanto, é também nesses jogos que os cambistas “fazem a festa”.
Para a partida entre Corinthians e Sport de Recife, valida pela 29° rodada do Campeonato Brasileiro, os ingressos da promoção se esgotaram já no domingo dia 23/09, primeiro dia de troca, sendo que a partida seria disputada apenas no sábado dia 29/09.
Na busca por ver como funciona a ação dos cambistas nos jogos em que haja a promoção da Nestlé, fomos até o estádio do Pacaembu, no sábado dia do jogo.
A movimentação era grande e com certeza a partida teria um grande público. Porém, a movimentação que mais chamava a atenção era justamente a dos cambistas. Era impressionante o número de ingressos na mão de cada um. Impressionante também era a quantidade de compradores mesmo com os cambistas combrado 20 reais por um ingresso que deveria custar três pacotes de bolacha. Um deles, o professor de Educação Física Sandro Gomes Pereira, 26, atribuiu à facilidade e à falta de tempo os motivos pelos quais havia comprado ingresso da mão de cambistas e aproveitou para criticar a organização do evento: “Estou comprando ingressos deles porque não tive tempo de comprar durante a semana e aqui é mais fácil de pegar. Falta organização por parte dos idealizadores e enquanto for assim vou continuar comprando de cambistas”.
Questionados sobre a ação dos cambistas em seus postos de trocas, a assessoria de imprensa da Nestlé se disse preocupada e afirmou que está tomando medidas para o caso, mesmo sem saber que na verdade as medidas em vez de conter facilitam o esquema dos cambistas: “A Nestlé vem tomando diversas medidas para tentar conter a ação de cambistas, com intuito de fazer com que apenas os torcedores e as famílias sejam beneficiados por nossa ação. Vale lembrar que além de limitarmos a quantidade de, no máximo, quatro convites por participante, adotamos a medida de colocar seguranças ao lado dos postos de troca (nos supermercados), visando, principalmente, inibir tal prática. Os seguranças são de uma empresa certificada pela Polícia Federal e não trabalham armados, mas visam minimizar eventuais problemas que possam ocorrer”. A declaração do cambista Anderson ao ser perguntando sobre como ele conseguia tantos ingressos põe em xeque os métodos da multinacional: “A agente consegue, né?! Colocamos gente na fila pra nós, é fácil conseguir. Sempre faço esse esquema e dá certo, mesmo na promoção da Nestlé”.
Ao ser questionada novamente sobre os métodos, principalmente se o numero de ingressos por pessoas não facilitaria a ação dos cambistas, a Nestlé, pelo menos até a data da redação dessa matéria, não havia se pronunciado. O mesmo aconteceu no caso da Ingressofácil, empresa responsável pela venda de ingressos dos jogos da Copa Sulamericana e do Campeonato Brasileiro quando não há promoção da Nestlé.

Até quando?

Impressionados com a facilidade com que os cambistas obtinham seus ingressos, num esquema que, novamente para a nossa surpresa, era altamente simples, perguntamos a alguns deles se isso não era ilegal. A resposta negativa, infelizmente fazia sentido. Os cambistas conseguem os ingressos de forma legal, pois as pessoas, chamados por eles mesmo de laranjas, compram os bilhetes a que tem direito e depois repassam aos cambistas, que por sua vez vendem pelo dobro do preço. Por outro lado, como pudemos presenciar, a própria venda de ingressos facilita a ação dos cambistas, mais ainda nos jogos de promoção da Nestlé. Ao não exigirem a presença do dono da carteirinha de estudante no ato da compra, e ao estipularem um número de três ingressos, às vezes até mais por pessoa (no caso da Nestlé quatro), os responsáveis pelas vendas estão dando uma “forçinha” a esse trabalho que é visto por todos como ilegal.
Portanto, pode-se dizer que o problema da máfia dos cambistas ainda é um mal que perpetuará por muito tempo nos estádios brasileiros, pois conta com o apoio da população, dos organizadores e, inclusive da lei, já que esta não possui um artigo em que se possa enquadrá-los.

Nenhum comentário: