
Joportunista
A seção Joportunista apresenta ao amigo blogueiro reportagem especial sobre a máfia dos cambistas. E vem mais...
Torcedores e própria venda de ingressos facilitam ação de cambistas
Na compra e na venda os cambistas encontram amparo para seus esquemas
11 horas da manhã, faz frio na cidade. Saímos direto da faculdade rumo ao estádio do Canindé, zona norte de São Paulo, onde pretendemos apurar algumas informações sobre a ação dos cambistas. Queremos saber de onde vem tanta facilidade. Sabemos que nossa missão não é das mais simples e a probabilidade de fracasso é grande. No caminho, trocamos algumas idéias de como abordar e retirar alguma informação interessante de um cambista. Sabemos que por vontade própria dificilmente um deles vai querer falar. Terá que ser de maneira “involuntária”.
Na compra e na venda os cambistas encontram amparo para seus esquemas
11 horas da manhã, faz frio na cidade. Saímos direto da faculdade rumo ao estádio do Canindé, zona norte de São Paulo, onde pretendemos apurar algumas informações sobre a ação dos cambistas. Queremos saber de onde vem tanta facilidade. Sabemos que nossa missão não é das mais simples e a probabilidade de fracasso é grande. No caminho, trocamos algumas idéias de como abordar e retirar alguma informação interessante de um cambista. Sabemos que por vontade própria dificilmente um deles vai querer falar. Terá que ser de maneira “involuntária”.
Chegamos ao local e logo avistamos uma pequena fila em volta do único guichê aberto. Os ingressos colocados a venda são para a partida São Paulo e Boca Juniors da Argentina, a ser disputada no estádio do Morumbi e que decidirá quem seguirá adiante na Copa Sulamericana. Um clássico internacional do futebol, prato cheio para a ação dos cambistas, pensamos.
Entramos na fila ao mesmo tempo em que ficamos atentos para ver se conseguíamos avistar algum movimento suspeito que denunciasse a presença de um cambista. A fila avançava, e nada. Na parede da bilheteria líamos os seguintes dizeres: “Ingressos para estudante somente com carteirinha e com a presença do dono do documento”; “Limite de três ingressos por pessoa”. Os avisos preocupavam alguns torcedores que esperavam pagar metade do valor pelas entradas, muitos dos quais portando os documentos de parentes, para quem, supostamente, seriam os ingressos comprados. Também incomodava àqueles que pretendiam, sozinhos, adquirir mais de três entradas.
Tentando estar atento a todos os detalhes, observamos todos os processos da venda dos ingressos, torcedor por torcedor. Numa das ocasiões, chega a vez de um senhor fazer seu pedido. Sozinho, o senhor, que aparentava uns 50 anos, pede três ingressos, sendo que dois deles meia, ou seja, para estudantes. Sem demonstrar conhecimento das regras de compra, a moça atendente apenas pede os documentos: “As carteirinhas, por favor!”. O homem entrega e, após alguns segundos, sai feliz com seus três ingressos na mão. A ação se repete com um jovem que aparentava ter pouco mais de vinte anos:
-Arquibancada azul, meia. Pediu o jovem.
-Quantas?
-Quatro, por favor!
-As carteirinhas. Disse novamente a moça atendente.
-Quantas?
-Quatro, por favor!
-As carteirinhas. Disse novamente a moça atendente.
Depois de entregar os documentos, o jovem sai com uma quantidade de ingressos acima do limite até então determinado pela organização da venda. Foi a segunda transgressão que percebemos em menos de meia-hora de fila.
Aproveitávamos a espera por nossa vez de comprar os ingressos para puxar conversa com alguns torcedores na fila. Talvez algum deles nos desse alguma informação valiosa. Sem sucesso. Falavam das chances do São Paulo vencer o time argentino, da crise no Corinthians, mas nada sobre o assunto a máfia dos cambistas.
Já passava do meio-dia, nossa vez chegava, e já achávamos que sairíamos dali levando conosco apenas o não cumprimento das normas de venda por parte da funcionaria atendente. Foi quando, de repente, do outro lado da rua, avistamos uma figura que nos levantou suspeita. Moreno, meia altura, aparentando ter no máximo trinta anos, o sujeito não se importava em ficar de pé, apenas fitando o movimento da compra de ingressos. Guardava lugar, como quem quisesse fazer ponto. Logo concluímos: “é um deles! Teremos assunto...”
Chegou nossa vez e compramos nossos ingressos para acompanharmos a partida do dia seguinte e assim registrar a ação dos cambistas momentos antes do jogo. Adquirimos nossas duas entradas, aproveitamos e compramos para alguns conhecidos e saímos com a impressão de que se quiséssemos comprar dez, vinte, trinta ingressos nada nos impediriam.
Para fazer contato com nossa fonte, fomos ao outro lado da rua onde havia um botequim. Pedimos duas coxinhas e dois refrigerantes. Ficamos atentos à conversa dos dois homens. Sujeitos comuns e não teriam nos chamado a atenção se não fosse o grande interesse deles pelo o tema de nossa matéria. Um deles era o nosso suspeito de há pouco. Não demorou muito e veio a confirmação:
Para fazer contato com nossa fonte, fomos ao outro lado da rua onde havia um botequim. Pedimos duas coxinhas e dois refrigerantes. Ficamos atentos à conversa dos dois homens. Sujeitos comuns e não teriam nos chamado a atenção se não fosse o grande interesse deles pelo o tema de nossa matéria. Um deles era o nosso suspeito de há pouco. Não demorou muito e veio a confirmação:
-E aí, conseguiu quantos hoje?
-Ah, hoje ta ruim. Essa mina aí é osso, não deixa pegar de muitos, se fosse a outra lá...
-Pode crê, aquela já ta ligada. Mas garanti 50 azul pelo menos.
-Ah, hoje ta ruim. Essa mina aí é osso, não deixa pegar de muitos, se fosse a outra lá...
-Pode crê, aquela já ta ligada. Mas garanti 50 azul pelo menos.
A conversa dos dois homens nos animou e parecia muito esclarecedora. Estávamos cansados de saber que os cambistas conseguiam uma grande parcela dos ingressos colocados à venda, em qualquer tipo de evento. O que era surpresa era o favorecimento do funcionário, como explicitado nas palavras do próprio cambista. Ao ouvirmos o surpreendente depoimento, tentamos nos aproximar mais dos dois homens. Era a nossa chance.
Pedimos mais uma coxinha e quando a senhora do botequim veio nos atender começamos a por em prática o que havíamos planejado no caminho:
-Será que haveria um jeito de conseguirmos uns dez ingressos?É que a mulher do guichê só nos vendeu três. Dissemos à senhora.
-Olha, esses dois rapazes aí conseguem, e são de confiança, viu?!Esses eu garanto! Disse a senhora, bem familiarizada com os dois homens já fazendo parte de um esquema com o qual muitos, sem saber ou não, cooperam.
-Olha, esses dois rapazes aí conseguem, e são de confiança, viu?!Esses eu garanto! Disse a senhora, bem familiarizada com os dois homens já fazendo parte de um esquema com o qual muitos, sem saber ou não, cooperam.
O nosso dialogo com a senhora do botequim atraiu por demais a atenção dos cambistas, tal como uma sirene policial. Os dois vieram falando ao mesmo tempo, eufóricos:
-De quantos vocês precisam?
-De uns dez. Dissemos.
-Para qual setor?Perguntou Adilson, como ele se apresentou.
-De uns dez. Dissemos.
-Para qual setor?Perguntou Adilson, como ele se apresentou.
Dissemos que precisávamos de dez entradas para a arquibancada vermelha, pois vínhamos do interior e outros ainda viriam de lá e precisávamos estar com os ingressos em mãos. Quando soube da quantidade relativamente alta de ingressos que queríamos, o outro cambista, que se apresentou como Carlão, suspeitou. Nossa história não tinha convencido muito aquele homem que parecia experiente no ramo.
Mesmo um pouco cismados com a atitude negativa de nossas fontes resolvemos ousar e perguntar como eles adquiriam as entradas. Carlão foi seco:
-Ihh, aqui é cambista rapá, aí é outra história.
Já Adilson, sempre disposto a cooperar mais, talvez atraído pela boa proposta, nos deu uma idéia do esquema:
-Quando a gente mesmo não retira lá no guichê, quando a mulher ta embaçando, a gente dá as carteirinhas pra algum torcedor que vai comprar só um ingresso, e pede pra ele comprar os outros que ele tem direito pra gente.
Neste momento entrava no bar uma mulher com mais ou menos uns dez ingressos na mão:
-A mulher ta embaçando, mas mesmo assim me deixou pegar esses aí. Ó, tudo meia. Disse ela enquanto entregava os ingressos e as carteirinhas de estudantes a Carlão.
Fomos embora com a promessa de que no dia seguinte ligaríamos para eles e compraríamos dez ingressos para o jogo.
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