segunda-feira, 30 de março de 2009

As lições de Saramago


Só esses dias tive o prazer de ler o blog de José Saramago. Uma das maravilhas que o avanço tecnológico nos proporcionou. Saramago, que disse recentemente que vai parar de escrever (duvido!), não é um dos mais vistos em minha cabeceira. No entanto, a visita a seu blog me lembrou algo curioso.
Tempos atrás, em uma das crises de inspiração, confesso que andei folheando coisas que não devia. Tomei distância da boa literatura, não vi bons filmes. Resultado: em meio ao exercício da leitura, ou da contemplação da tela, eu adormecia. Não há remédio melhor no mundo para a insônia do que livros e filme desinteressantes. Não conseguia ler duas páginas sem que meus olhos caíssem em poço obscuro.
Certo dia, um amigo me pediu para acompanhá-lo até a livraria São Paulo, na Avenida Paulista, onde a vocalista do Pato Fu, Fernanda Takai, distribuiria autógrafos, no lançamento de mais um de seus discos. Por apreciar a boa a música do grupo e, sobretudo, pela sempre boa companhia desse meu amigo, aceitei o convite sem demora. Além disso, ainda não conhecia o lugar.
Lá chegando, nada demais. Meu amigo pegou seu autógrafo, trocou dois ou três ruídos com a cantora e fomos embora. Antes, porém, demos uma passada na loja que, diga-se de passagem, é bastante atraente.
Em meio àquele amontoado de livros, resolvemos pegar alguma coisa para ler. Folheei alguns clássicos, procurei alguns títulos de Umberto Eco, claro, até encontrar um conto de Saramago cujo tamanho permitia que fosse lido antes de irmos embora.
O conto da ilha desconhecida é uma obra bem conhecida do escritor, mas eu ainda não havia lido. Assim, enquanto meu amigo folheava títulos de Albert Camus, sentei-me em uma das confortáveis poltronas do local e iniciei minha leitura.
Em pouco mais de cinco minutos eu já estava a cochilar. Foi aí que me dei conta de que meu problema não era os maus livros com que vinha tendo contato. Saramago me fez saber que meu problema era mais grave do que aparentava. Ainda bem.

domingo, 11 de maio de 2008


Pela Internet, torcedores do São Paulo se unem em ações sociais
Rede mundial de computadores foi ponto de partida para entidade que hoje conta com quase 3000 simpatizantes, no Brasil e no Mundo

Defender o São Paulo Futebol Clube, seu time de coração. Com esse ideal, o advogado Carlos Port, 36, resolveu trazer à tona um sonho antigo e criou a Guerreiros da Paz, entidade social, sem fins lucrativos, formada, a principio, por torcedores do time da cidade de São Paulo. “A GP surgiu de um desejo de resgatar o bom torcedor e provar que o futebol pode sim mobilizar pessoas em organização, mas para a festa do esporte e pelo bem comum”, explica o fundador e atual presidente da entidade, que hoje tem estatuto firmado e protocolado no Ministério Público, além de estar com o reconhecimento de firma em processo de vias de registro.

Mas só um sonho não era o suficiente. Carlos sabia que precisava de mais gente e ação, e foi aí que entrou a Internet na formação dos alicerces: “Partindo do plano inicial que era (e ainda é) reunir torcedores comprometidos com a paz e com a defesa incondicional do SPFC, criei uma estratégia de abordagem e captação de são-paulinos pela Internet, buscando nos maiores fóruns de discussão existentes do clube na rede, sites, blogs e através do Orkut, pessoas que agregassem a causa, por análises de perfis e comentários”, explica.

Carlos começou a trabalhar na captação dos membros e, num projeto bem sistemático, criou sub-comunidades regionais, que permitiram a membros de todo país ingressar no ideal dos “guerreiros”. É uma sub-comunidade para cada região do Brasil e ao todo a GP conta com mais de 350 membros na comunidade virtual principal e mais de 3 mil simpatizantes reunindo todas as outras.

Assim, com sua base formada no universo virtual, a GP começou a atuar como sociedade, definindo diretorias específicas para cada necessidade de gestão, dentre elas a de Jornalismo, Jurídica, Social e Educativa, sempre dirigida por um membro com alguma experiência na área.

Um desses diretores é o advogado Max Schmidt, 29, que está à frente da parte jurídica e é, juntamente com Carlos, um dos 4 co-fundadores da entidade. Ele comenta um pouco sobre sua atuação n GP: “no começo de 2007 conheci três pessoas que hoje considero amigos e conjuntamente começamos a sonhar e idealizar o que hoje é uma realidade valorosa. Durante esse período, venho atuando conforme a minha possibilidade de tempo, participando mensalmente nas assembléias, onde são definidos os rumos e ações da entidade e estando diariamente em contato com os demais membros, debatendo idéias e planos. Como parte da Diretoria, tenho a tarefa de dirimir questões de toda ordem e espécie no âmbito da sociedade. Em dezembro de 2007 participei da Ação de Natal numa instituição de crianças com câncer e ainda formamos um time de futebol do qual faço parte”.

A ação de que Max fala foi a que iniciou a entidade nos projetos sociais. Aconteceu na Casa José Eduardo Cavichio, a CAJEC, e a GP participou levando donativos, artigos licenciados pelo São Paulo adquiridos como presente, e muito calor humano para as crianças.

Para Luciana Silva, 35, uma das diretoras sociais da GP, atualmente morando em Sorocaba, a ação na CAJEC foi um marco para os “guerreiros da paz”: “Olha, foi bonito de ver. Não só a ação em si, mas a confraternização que se tornou. Muitos ali não se conheciam pessoalmente, só pela Internet, e fomos em muitos. Sem contar as crianças. Ver todos aqueles “tios” e “tias” levando presentes de Natal e palavras amigas...”, conta emocionada Luciana. “Minha vida nunca mais foi a mesma depois disso”, completa.

Depois da ação da CAJEC, a GP ainda participou de mais duas ações. A volta às aulas da APAE, entidade que dá assistência a crianças com síndrome de down, e a Páscoa da Casa de Sonho da Criança, que cuida de crianças violentada pelos pais.

Na APAE foram doados mais de 100 kits escolares completos, além de muito carinho: “As reações deles ao ganhar o kit escolar foram as mais diversas. Alguns ficaram com vergonha, outros nos agarravam sem a menor cerimônia (uma menininha chamava o Ricci de gatão, e deu um fora no Carlinhos – Carlos Port, presidente da GP)”, comenta Luciana, sorrindo com a lembrança. “Um guri pulava como se tivesse ganho uma medalha de ouro olímpica. É difícil falar disso e ficar com os olhos secos”, completa ela, agora extremamente emocionada.

Já na ação de páscoa na Casa Sonho de Criança, os “guerreiros” distribuíram ovos de chocolate e, obviamente, muita alegria às crianças. Luciana comenta, novamente emocionada: “só vendo essas situações pra ver que a nossa vida, apesar de tudo, é boa! Essas crianças são vítimas de violência doméstica. É chocante saber que seres humanos fizeram aquilo, ainda mais os próprios pais ou familiares. Acho que essa páscoa foi a melhor páscoa de toda a minha vida”. Luciana é, junto com várias outras mulheres, uma das responsáveis pela ala-feminina da Guerreiros da Paz.

Sobre o futuro, o presidente da entidade nos diz o que vem por aí: “Vem agora a Ação Social da Campanha do Agasalho junto ao Lar Bussocaba, situado em Osasco e mantido por vicentinos, que atenderá 80 idosos por doações de roupas, alimentos, perfumaria (higiene pessoal) e medicamentos”, diz Carlos Port. Além dessa próxima ação que já está preparada, há ainda o projeto de criação do Guia do Torcedor, uma cartilha que irá fornecer auxílio ao torcedor que freqüenta eventos esportivos, bem como indicação de transporte e medidas preventivas.

Todas essas ações e projetos têm feito algumas pessoas mais felizes, não só os que recebem as doações como também os próprios membros da GP, como percebemos no entusiasmo com que fala Max: “Pessoalmente, a participação nesse generoso projeto só me traz contentamento. É uma satisfação participar de ações sociais, fazer o bem ao próximo, quando na verdade o estou fazendo para mim mesmo. Conheci pessoas boas, amigas, leais, que só confirmam o acerto que fiz em ingressar nessa valorosa iniciativa”.

Já o presidente enche os olhos para falar do que hoje já é uma realidade e aproveita para fazer um alerta ao torcedor são-paulino e a todos que já tiveram contato com a Guerreiros da Paz: “A Guerreiros da Paz é prova viva de que é possível tornar o mundo virtual uma plena realidade de conhecimento e amizade entre pessoas, com confiança e credibilidade. Somos hoje uma realidade sem fronteiras. O futuro?! Esteja conosco são-paulino e vislumbrará com alegria e orgulho o que nos aguarda”.

A entidade ainda não tem sede, porém há o projeto de longo prazo para criação de uma ONG mais ampla, denominada Paz Futebol Clube.

Enquanto isso não se concretiza, torcemos para que outras iniciativas como essa possam surgir, independentemente do setor e/ou da torcida.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

MAC freqüenta comunidade do tricolor no Orkut

Marco Aurélio Cunha, superintendente de futebol do São Paulo, andou freqüentado a comunidade São Paulo FC - Tricolor, maior do tricolor no Orkut, site de relacionamento pessoal.

MAC, como é mais conhecido pelos torcedores, criou alguns tópicos, tendo grande repercussão imediata. Num deles, denominado “Formadores de Opinião”, o bem humorado dirigente tricolor falou um pouco de suas participações em debates na TV, segundo ele, para defender “formas deturpadas” apresentadas contra o tricolor.

Ainda no mesmo tópico, MAC afirmou que muitas vezes na TV “buscam depreciar o São Paulo ao invés de criticarem os ruins”.

No final, MAC se despediu mandando abraços a todos os são-paulinos e disse que gostaria de deixar a impressão não do falastrão ou do cara divertido que procura ser, mas sim do dirigente preocupado com a Instituição.

Alguns minutos após a participação do MAC, o tópico sumiu. Após a reclamação de muitos internautas são-paulinos, e inclusive do próprio MAC, a moderação que controla a comunidade alegou que o tópico foi excluído sem querer.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007



Estréia poética: um soneto.


Por luz, gáudio e prata me descobri pálido
caminhei até a fonte sem pé nem fortaleza
e doloroso amor de encontro à tristeza
só me fez querer intensidade, amor e gáudio.

Na maçã do teu semblante as razões secaram,
o jambo, o mel, a casca e a pêra
me fizeram sofrer a querer-te por inteira,
quando do meu pedido, e de tuas mãos uniram-se
morte, amor e tristeza.

Fogo que arde e cala e sofre intensamente.
Eu aos berros me declaro demente
e o gemido da tua boca ao toque de minha boca

faz chorar a mim, a ti, a nós
e todavia enxugado teu pranto por mim
eu segui sem mim, com fome e seco: de tua existência.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Os Ecos da Intertextualidade

O ano está acabando e com ele parece que minha inspiração também. Vou ser breve.
Na verdade, passei somente pra deixar algumas dicas de coisinhas com que tive contato nesses últimos dias. Aí vai:
1°) Assistam “Mutum”, filme nacional baseado na obra de Guimarães Rosa. Está em cartaz no espaço Unibanco, na Rua Frei Caneca.
2°) Leiam “A Morte em Veneza”, novela do escritor alemão Thomas Mann. Desde a leitura d’Os Sofrimentos do Jovem Werther, eu não havia lido nada tão belo. Esses alemães viu...
3°) Procurem ler também, assim entre um cochilo e outro, a poesia de Pablo Neruda. Iniciei a leitura de Cem Sonetos de Amor e estou gostando muito. Aos que vão viajar, pegar uma prainha, imagino que seja um deleite sem igual ler Neruda à beira do mar.

E para vocês ficarem com um gostinho, eis um dos sonetos:

“NÃO TE QUERO senão porque te quero
e de querer-te a não querer-te chego
e de esperar-te quando não te espero
passa meu coração do frio ao fogo.

Te quero só porque a ti te quero,
te odeio sem fim, e odiando-te rogo,
e a medida de meu amor viajeiro
é não ver-te e amar-te como um cego.

Talvez consumirá a luz de janeiro
seu raio cruel, meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego.

Nesta história só eu morro
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero, amor a sangue e fogo.”

Aos que tiverem maior interesse pela obra de Neruda, recomendo também que assistam ao brilhante filme do diretor Michael Radford, O Carteiro e o Poeta.

Mais Neruda:

"Ao golpe da onda contra a pedra indócil
estala a claridade e estabelece sua rosa
e o círculo do mar se reduz a um cacho,
a uma só gota de sal azul que tomba."









Até breve!

sábado, 1 de dezembro de 2007


A ironia entre o Salão e os TCC´s

Nessa sexta, na UNIP, os alunos que estão se formando em Jornalismo apresentaram seus trabalhos de conclusão de curso, o famoso e temido TCC. Há mais ou menos duas semanas aconteceu, no Memorial da América Latina, o 1° Salão do Jornalista Escritor, do qual já falei a respeito. O que as duas coisas tem a ver?Explico.

É que naquele Salão muito se falou sobre o jornalismo praticado atualmente. O leitor pode imaginar a quantidade de criticas, tanto da parte dos convidados como da platéia. Aquela velha história da parcialidade descarada, da falta de ética e de tudo aquilo que já virou clichê, mas que não deixa de ser real. Muitas criticas foram feitas contra os jornalistas mais novos, tendo em vista que a maioria dos que passaram ali faz parte do que se pode chamar de “velha-guarda” do jornalismo. Eu, confesso, saí dali preocupado em saber se haveria de fato futuro para o jornalismo, mesmo após ter ouvido tantos comentários apocalípticos. E é aí onde entra os alunos da UNIP.

Na apresentação, que comeu toda manhã dessa sexta-feira e ainda um pouco da tarde, meus companheiros apagaram um pouco o sentimento de que tudo está perdido que havia me tomado após aquele Salão. Teve de tudo, e tudo, ao que parece, muito bem feito. É que alguns, mais precisamente 6 dos 8 grupos que se apresentaram, resolveram escrever livros-reportagem e, infelizmente, ainda não pude conferir todo o trabalho. No entanto, não só pelos comentários das bancas, mas também pela ousadia dos temas escolhidos por parte dos alunos, deu, após as apresentações, para se ter uma boa idéia do que havia sido feito. Como eu disse, teve de tudo. Desde o relato de um casamento judaico, passando por OVNIS, chegando a uma biografia da banda Ultraje a Rigor. A todos essas apresentações se seguiram elogios dos professores integrantes das mesas, que parabenizavam os alunos pela ótima cobertura, pelo texto gostoso de se ler, pelo profissionalismo, enfim, e tudo aquilo que foi posto em cheque naquele mesmo Salão.

Entretanto, apesar dos TCC’s terem me deixado mais esperançosos para com a profissão, eles lançaram algumas dúvidas não tão animadoras. O que acontece com os estudantes de jornalismo depois que se formam?Por que, para muitos, os elogios freiam na banca do TCC?

Evidente que a liberdade não é a mesma, que as condições são totalmente diferentes quando se chega às redações. Porém, isso não deveria ser compensado com a maturidade, com a vivência na profissão, e com outros fatores que somente a própria redação ensina?E não me venha dizer que não há espaço para jornalistas sérios atualmente pois isso é balela. Se pensarmos numa redação somente de diplomados, poderíamos assim sugerir dois tipos de profissionais hoje em dia e o leitor poderá também qualificá-los: Temos os que ainda levam alguma coisa de seus TCC´s e os que não.

Voltando ao Salão, lembro de uma frase infeliz usada por um convidado para ilustrar a situação do quadro jornalístico atual: “Hoje se faz jornalismo assim: separa-se o joio do trigo. Publica-se o joio e guarda-se o trigo”. Ao que parece, jornalismo mesmo só vem sendo feito nas universidades. Uma ironia, no mínimo, interessante...

domingo, 25 de novembro de 2007


A Saída está na Poesia

Ariano Suassuna, escritor paraibano, é, certamente, uma das últimas lendas vivas de nossa literatura. Amante da cultura brasileira, o autor de A Pedra do Reino tem uma poética fascinante, quase sempre marcada pelo destino trágico traçado para a sua vida de sertanejo. E todo o fascínio da obra de Ariano, contada sob o plano de sua vida, pôde ser vivido pelo público que passou pelo CCBB, entre os dias 15 de setembro e 04 de novembro, e que viram a peça “Ariano, arauto de um tempo armorial”, dirigida por Gustavo Paso.

No entanto, evoco Ariano e a brilhante peça de Gustavo para comentar uma notícia que acabo de ler. É que na cidade mineira de Araxá, por uma iniciativa da Academia de Letras local, as embalagens do pão de cada dia têm poesias impressas. Ou seja: literalmente, os cidadãos de Araxá tomam o que podemos chamar de um verdadeiro café poético. Os versos tratam do cotidiano, da natureza e do próprio pão. E que bela iniciativa.

Começo a imaginar como seria bom se a moda pegasse. Que bom seria comprar um pacote de biscoitos em que se visse Drummond, ou mesmo Rimbaud. No feijão então, que beleza! Imaginem só nossas mães, ao abrirem o pacote para espalhar os grãos sobre a mesa, a fim de escolher os melhores, se deparando com um belíssimo verso de João Cabral falando do amor, por exemplo. Que bom seria ver as embalagens dos achocolatodos adoçadas pelo punho de Monteiro Lobato. Sem contar que poderia se tornar um belo mecanismo de educação para as crianças. Até Ziraldo poderia entrar nessa e produzir suas famosas frases em parceria com as empresas desse ramo. Seria mesmo uma maravilha.

Voltando a Ariano e a peça de Gustavo, o espetáculo mostra o conflito do próprio Ariano, agora personagem, que viaja entre suas obras para buscar, no final das contas, uma resposta para a vida. E a iluminação do personagem se dá pela frase: “A saída está na poesia”. A saída é mesmo genial. E os habitantes de Araxá sabem muito bem disso.