Pela Internet, torcedores do São Paulo se unem em ações sociais
Rede mundial de computadores foi ponto de partida para entidade que hoje conta com quase 3000 simpatizantes, no Brasil e no Mundo
Defender o São Paulo Futebol Clube, seu time de coração. Com esse ideal, o advogado Carlos Port, 36, resolveu trazer à tona um sonho antigo e criou a Guerreiros da Paz, entidade social, sem fins lucrativos, formada, a principio, por torcedores do time da cidade de São Paulo. “A GP surgiu de um desejo de resgatar o bom torcedor e provar que o futebol pode sim mobilizar pessoas em organização, mas para a festa do esporte e pelo bem comum”, explica o fundador e atual presidente da entidade, que hoje tem estatuto firmado e protocolado no Ministério Público, além de estar com o reconhecimento de firma em processo de vias de registro.
Mas só um sonho não era o suficiente. Carlos sabia que precisava de mais gente e ação, e foi aí que entrou a Internet na formação dos alicerces: “Partindo do plano inicial que era (e ainda é) reunir torcedores comprometidos com a paz e com a defesa incondicional do SPFC, criei uma estratégia de abordagem e captação de são-paulinos pela Internet, buscando nos maiores fóruns de discussão existentes do clube na rede, sites, blogs e através do Orkut, pessoas que agregassem a causa, por análises de perfis e comentários”, explica.
Carlos começou a trabalhar na captação dos membros e, num projeto bem sistemático, criou sub-comunidades regionais, que permitiram a membros de todo país ingressar no ideal dos “guerreiros”. É uma sub-comunidade para cada região do Brasil e ao todo a GP conta com mais de 350 membros na comunidade virtual principal e mais de 3 mil simpatizantes reunindo todas as outras.
Assim, com sua base formada no universo virtual, a GP começou a atuar como sociedade, definindo diretorias específicas para cada necessidade de gestão, dentre elas a de Jornalismo, Jurídica, Social e Educativa, sempre dirigida por um membro com alguma experiência na área.
Um desses diretores é o advogado Max Schmidt, 29, que está à frente da parte jurídica e é, juntamente com Carlos, um dos 4 co-fundadores da entidade. Ele comenta um pouco sobre sua atuação n GP: “no começo de 2007 conheci três pessoas que hoje considero amigos e conjuntamente começamos a sonhar e idealizar o que hoje é uma realidade valorosa. Durante esse período, venho atuando conforme a minha possibilidade de tempo, participando mensalmente nas assembléias, onde são definidos os rumos e ações da entidade e estando diariamente em contato com os demais membros, debatendo idéias e planos. Como parte da Diretoria, tenho a tarefa de dirimir questões de toda ordem e espécie no âmbito da sociedade. Em dezembro de 2007 participei da Ação de Natal numa instituição de crianças com câncer e ainda formamos um time de futebol do qual faço parte”.
A ação de que Max fala foi a que iniciou a entidade nos projetos sociais. Aconteceu na Casa José Eduardo Cavichio, a CAJEC, e a GP participou levando donativos, artigos licenciados pelo São Paulo adquiridos como presente, e muito calor humano para as crianças.
Para Luciana Silva, 35, uma das diretoras sociais da GP, atualmente morando em Sorocaba, a ação na CAJEC foi um marco para os “guerreiros da paz”: “Olha, foi bonito de ver. Não só a ação em si, mas a confraternização que se tornou. Muitos ali não se conheciam pessoalmente, só pela Internet, e fomos em muitos. Sem contar as crianças. Ver todos aqueles “tios” e “tias” levando presentes de Natal e palavras amigas...”, conta emocionada Luciana. “Minha vida nunca mais foi a mesma depois disso”, completa.
Depois da ação da CAJEC, a GP ainda participou de mais duas ações. A volta às aulas da APAE, entidade que dá assistência a crianças com síndrome de down, e a Páscoa da Casa de Sonho da Criança, que cuida de crianças violentada pelos pais.
Na APAE foram doados mais de 100 kits escolares completos, além de muito carinho: “As reações deles ao ganhar o kit escolar foram as mais diversas. Alguns ficaram com vergonha, outros nos agarravam sem a menor cerimônia (uma menininha chamava o Ricci de gatão, e deu um fora no Carlinhos – Carlos Port, presidente da GP)”, comenta Luciana, sorrindo com a lembrança. “Um guri pulava como se tivesse ganho uma medalha de ouro olímpica. É difícil falar disso e ficar com os olhos secos”, completa ela, agora extremamente emocionada.
Já na ação de páscoa na Casa Sonho de Criança, os “guerreiros” distribuíram ovos de chocolate e, obviamente, muita alegria às crianças. Luciana comenta, novamente emocionada: “só vendo essas situações pra ver que a nossa vida, apesar de tudo, é boa! Essas crianças são vítimas de violência doméstica. É chocante saber que seres humanos fizeram aquilo, ainda mais os próprios pais ou familiares. Acho que essa páscoa foi a melhor páscoa de toda a minha vida”. Luciana é, junto com várias outras mulheres, uma das responsáveis pela ala-feminina da Guerreiros da Paz.
Sobre o futuro, o presidente da entidade nos diz o que vem por aí: “Vem agora a Ação Social da Campanha do Agasalho junto ao Lar Bussocaba, situado em Osasco e mantido por vicentinos, que atenderá 80 idosos por doações de roupas, alimentos, perfumaria (higiene pessoal) e medicamentos”, diz Carlos Port. Além dessa próxima ação que já está preparada, há ainda o projeto de criação do Guia do Torcedor, uma cartilha que irá fornecer auxílio ao torcedor que freqüenta eventos esportivos, bem como indicação de transporte e medidas preventivas.
Todas essas ações e projetos têm feito algumas pessoas mais felizes, não só os que recebem as doações como também os próprios membros da GP, como percebemos no entusiasmo com que fala Max: “Pessoalmente, a participação nesse generoso projeto só me traz contentamento. É uma satisfação participar de ações sociais, fazer o bem ao próximo, quando na verdade o estou fazendo para mim mesmo. Conheci pessoas boas, amigas, leais, que só confirmam o acerto que fiz em ingressar nessa valorosa iniciativa”.
Já o presidente enche os olhos para falar do que hoje já é uma realidade e aproveita para fazer um alerta ao torcedor são-paulino e a todos que já tiveram contato com a Guerreiros da Paz: “A Guerreiros da Paz é prova viva de que é possível tornar o mundo virtual uma plena realidade de conhecimento e amizade entre pessoas, com confiança e credibilidade. Somos hoje uma realidade sem fronteiras. O futuro?! Esteja conosco são-paulino e vislumbrará com alegria e orgulho o que nos aguarda”.
A entidade ainda não tem sede, porém há o projeto de longo prazo para criação de uma ONG mais ampla, denominada Paz Futebol Clube.
Enquanto isso não se concretiza, torcemos para que outras iniciativas como essa possam surgir, independentemente do setor e/ou da torcida.