terça-feira, 19 de junho de 2007

“Com o perdão da palavra...

...sou um mistério para mim”. Com essa frase uma escritora nascida na Ucrânia, mas de alma brasileira, resumia a si própria e ao que viria a ser seus escritos. E esse “resumo” atendia pelo nome de Clarice Lispector.

Dias atrás o amigo blogueiro já se deparou, aqui mesmo, com um texto falando da exposição no Museu da Língua Portuguesa, e, consequentemente, de Clarice Lispector. Mas por que voltar a falar de Clarice?Simplesmente por que agora o faço à luz d’A paixão segundo G. H.

Para os que não sabem, A paixão segundo G. H. é um romance (romance?) da autora de A hora da estrela, cujo enredo (enredo?) gira em torno de um encontro patético da personagem principal, a G. H., com, adivinhem... uma barata!Isso mesmo. A autora “desperdiça” quase duzentas páginas falando simplesmente (simplesmente?) de uma mulher (mulher?) de classe média alta que se depara com um inseto no quarto da empregada, por sua vez, despedida.

Eu poderia usar do restante do texto para tentar lhes passar a minha visão da história (história?), porém, abdico disso me apossando de uma experiência da própria autora. É que em entrevista concedida a TV cultura, a única da autora pra televisão, Clarice comenta se seria ela hermética ou não. Na ocasião, a escritora cita a experiência de ter ouvido um professor de literatura, certa vez, lhe dizer que havia lido quatros vezes o seu romance sobre a bendita (bendita?) barata e não sabia do que se tratava. Por outro lado, uma estudante de 17 anos lhe dissera que esse era seu livro de cabeceira. Ela lia e relia. Segundo Clarice, entendê-la não seria questão de explicar, e sim de sentir.

Tendo abdicado, me sinto agora capaz de lhe passar alguma coisa (coisa?) amigo bloqueiro. Explicações a parte, o livro da mulher que se dizia um mistério, serviu, em particular, para abrir inúmeras reflexões sobre questões próximas e ao mesmo tempo atuais. Até que ponto podemos parar, olhar pro lado e nos dizermos: sou experiente, já sei algo?!Será mesmo um erro qualquer, descartável, o pior de todos os males?Será mesmo errado errar?Será que não temos que perder para podermos com isso ganhar?Não estamos, há tempos, desde nossa ancestralidade, perdendo tudo o que temos e até mesmo o que não temos?Somos hipócritas por não acharmos a barata um ser nojento ou por não termos vontade de comer baratas?

Enfim, talvez minhas dúvidas não sirvam para nada. Talvez aquele que já leu ou que lerá o apaixonante (apaixonante?) livro da misteriosa escritora me entenda um pouco. Você que não entendeu, talvez fazer algo melhor do que passar seus dias perseguindo as pessoas o ajude. Sugiro também a leitura da fábula A Raposa e as Uvas de Esopo. Mas que importa?O que importa é que sou um mistério para mim, e isso me tira da condição de estar acima do bem e do mal. Obrigado Clarice!

2 comentários:

Anônimo disse...

Estar acima do bem e do mal é justamente não SE ACHAR acima do bem e do mal.

Chega a ser engraçado o que a prepotência faz com as pessoas você não acha?

A pequenez humana se encontra justamente nos que se acham grandes demais, inteligentes demais, bonitos demais, intocáveis demais...

Anônimo disse...

(Bom, eu acabei de escrever um texto enorme, espero que a inspiração volte...)

Como eu sempre digo, conhecimento não ocupa espaço.Há sempre algo a se aprender, não importa sobre o quê, nem de quem.Há sempre algo que nós podemos aprender, por mais inútil e insignificante que qualquer fato, qualquer texto, qualquer imagem, qualquer pessoa possa ser.
Ninguém, nunca, sabe o bastante.Ninguém já viu ou sabe de tudo. O universo nunca pára, tudo está sempre em constante movimento, há sempre algo novo pra ser visto, pra ser lido, pra ser ouvido, por mais dificil que seja encontrar estas novidades.Quem diz que já sabe de tudo, creio eu, está um pouquinho equivocado, ou caducou de vez...