As universidades e o mito da cavernaO mito da caverna é uma das passagens escritas por Platão que mais gera debates e discussões, desde que foi apresentada pela primeira vez ao público, na obra intitulada “A República” (livro VII). A alegoria mostra homens que vivem numa caverna completamente escura, iluminada apenas por um feixe de luz exterior, proveniente de uma minúscula fresta. Durante toda a vida, os homens, que lá vivem acorrentados, enxergam somente as sombras projetadas na parede pela entrada de luz.
Em determinado momento, um dos prisioneiros consegue se libertar e parte para o muro, na tentativa de escalá-lo. Depois de muito sacrifício, e de enfrentar inúmeros obstáculos, ele, enfim, consegue se ver livre da escuridão. Ao sair, porém, a luz do mundo o deixa por muito tempo cego. Tendo recuperado a visão, depois de se habituar, o homem consegue ver que o mundo era muito mais do que as sombras da caverna, e que a realidade crente por eles era, na verdade, uma ilusão criada pelo feixe de luz.
Após um longo período de contemplação da vida iluminada, o homem decide voltar à caverna para contar aos seus companheiros o novo mundo que descobrira. Porém, depois de contar tudo que observou, é tido como louco pelos outros, que acham absurdo tudo aquilo e optam por continuar nas trevas.
Passados dois milênios, e o mito da caverna ainda faz escola. Atualmente, muitos pensadores consideram a TV como o exemplo que mais se assemelha à alegoria platônica. No entanto, ao modo como se sucedem as atividades nas universidades do país, creio que, muito em breve, os teóricos terão outro fenômeno para associar com a ótima demonstração, nos dada por Platão, do que é a ignorância.
As universidades, criadas na Europa Medieval, surgiram como ambiente de ensino. Não obstante, também promoviam os debates entre mestres e alunos, e essa era uma das características mais fortes, e que fizeram com que a universidade ganhasse o status que tem hoje. Principalmente em nossa sociedade, um universitário é, teoricamente, considerado mais crítico e, às vezes, até mais sábio do que os outros simples mortais. Porém, cada vez mais, isso fica só na teoria.
A verdade é que as aulas transformaram-se em verdadeiros monólogos feitos pelo professores, sem que o aluno os questione. Se numa aula de matemática isso já pode ser enxergado como um problema, imagine então nas disciplinas da área de humanas, sociologia, por exemplo.
Isso ajuda a explicar a falta de ação por partes dos jovens de hoje em dia. Com raras exceções, ninguém protesta por nada, aconteça o que acontecer. Mas é claro, se na universidade já se acorrentam, o resultado não pode vir a ser diferente. Faltam cidadãos críticos em/ao nosso país, e isso se deve em parte ao nosso ensino superior, que cada vez mais caminha para a idéia de caverna. Resignado, torço para que algum mortal tente escalar o muro.
5 comentários:
eu não sou universatario, portanto so posso confiar no que o marcio argumenta no texto...mas é fato que toda a nossa sociedade desestimula a discução...
todos nos somos adultos e sabemos bem o porque...cabe a quem ta inserido nesse sistema tentar modificar o que se passa nas salas de aula...mesmo que isso signifique a empatia de seus professores...xD
Bom texto, mas concordo apenas em partes. Concordo que vivemos em uma sociedade em que a discussão não é o forte da maioria, mas agora dizer que tudo e todos nos desestimulam a fazer isso é um erro. O que eu mais vejo são pessoas que estimulam uma discussão aberta e sadia, tanto na faculdade, no meu trabalho, quanto na minha casa. A "discussão" é uma questão de educação, e educação se aprende em casa. A historinha de Platão é muito conhecida, só acho que você interpretou muito as avessas, a ignorância de quem ficou na caverna é grande sim, mas e o egoísmo de quem saiu é bem maior. O homem que saiu não quis soltar os amigos para que eles tivessem o mesmo prazer que ele teve ao contemplar a natureza, ele foi egoísta o bastante a ponto de nem querer ouvir os outros. O egoísmo também é uma forma de ignorância, diga-se de passagem bem pior que qualquer outra.
Ariane,
Primeiro que em nenhum momento, no meu texto, eu afirmei que tudo e todos são contra "a discussão".
Sobre a alegoria de Platão, ela é desenvolvida em forma de diálogo, e, como sabemos, Platão nos apresenta em forma de suposições. Ou seja, tanto eu posso interpretar de uma maneira como você de outra. Há a questão do egoísmo sim no mito, mas é só uma hipótese, se você ler bem, ele também apresenta a hipótese do homem voltar à caverna e contar aos outros o que viu, e assim, supõe Platão, seria morto.
Pra finalizar, mande-me um texto falando do seu país que eu posto aqui no blog. Afinal, acredito que todos queremos saber onde fica essa terra prometida, onde o debate é estimulado, tanto em casa, como na escola e como no trabalho.
Beijinhos!
Marcio André
Muitos bares e poucas bibliotecas. Esse é o problema.
Mas quem sou eu para reclamar?
Quem escala o muro, o faz sozinho. Não se pode esperar que os outros façam o que é certo, o que é melhor para todos. Podemos apenas fazer nossa parte. Adorei os textos. Beijos
Postar um comentário